Comentário "Helvética"


“Não confunda legibilidade com comunicação. Se alguma coisa é legível não significa que ela comunica.”, frase de David Carson no documentário Helvética, explicita como uma composição gráfica pode ser interpretada além da sua compreensão por meio de logotipos e imagens. Ao assistir o documentário, é possível perceber a ascensão da fonte Helvética após a Segunda Guerra Mundial, durante o Movimento Modernista em 1957. Antes desse período, as fontes encontradas em anúncios, revistas e capas de divulgação possuíam um caráter mais carregado comparado à Helvética. Isso fica claro na cena em que revistas com propaganda de bens de consumo são apresentadas de forma bastante expressiva com fontes coloridas e distintas uma das outras. Durante o período modernista, isso começa a deixar de ser utilizado pelo designers gráficos ao passo que crescia a necessidade de uso de uma fonte racional. A busca por esse logotipo exige uma transformação que possa enquadrar identidades corporativas, sistemas de sinalização e informações contemporâneas de forma clara e inteligível.  

No documentário, a forma como a logotipo Helvética é apresentada de diferentes pontos de vistas de acordo com as experiências e particularidades de cada designer. Para alguns a fonte representa a forma de expressão da globalização enquanto outros a colocam em lugar de destaque como a melhor opção para a sociedade moderna. Nesse contexto, torna-se intrigante o fato dos entrevistados buscarem justificar seu ponto de vista ao mesmo tempo que as premissas elaboradas por visões antagônicas não se contradizerem. Quando uma designer de escrita diz que a Helvética a remete ao fascismo e, de forma sarcástica, diz que a culpa da Guerra no Iraque deve-se à fonte, não invalida o argumento, dito por aqueles que gostam de utilizar a fonte, em que a logotipo é firme, racional e ao mesmo tempo expressiva o suficiente para passar uma mensagem de forma clara. Todavia, esse poder da fonte e questão é desgastada a medida que seu uso em larga escala começa a gerar um desconforto e até um certo tédio nos designers.

Portanto, uma mesma mensagem pode ser apresentada de diferentes formas, todavia a composição gráfica é que permite a interpretação pelas pessoas. Assim como explanado por David Carson, “Há uma diferença sutil entre simplicidade, limpeza e força e simplicidade, limpeza e tédio”. Dessa forma, uma mensagem pode ser tão desinteressante quanto sua fonte considerada tediosa para os leitores a medida que um álbum de músicas pode ser tão atrativo quanto as imagens e logotipos utilizadas em sua capa. Assim, torna-se claro o papel do designer em conceber aquilo que pode ser criada por meio dos recursos disponíveis em programas.

Comentários